15 de agosto de 2008

Caricatura em Portugal, de João Medina


Num pano de fundo histórico-cultural oitocentista, durante os reinados de D. Luís e D. Carlos, o humorista e caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) aparece, antes de mais, como um crítico coerente e infatigável do Fontismo, da Regeneração, de toda a monarquia constitucional e, para além deles, de todo o universo cultural e social que deles deriva e no qual se move uma população que, uma vez por outra, como o pobre Zé, vai espreitar os robertos da Arcada ou de São Bento.

O seu lápis tudo regista e fustiga com a sua troça desprovida de ódio, rematando esse labor naquilo que, de certo modo, podemos considerar como a sua criação suprema, ou seja, a criação dum Mito verdadeiramente nacional, o auto-retrato satírico chamado Zé Povinho, ao mesmo tempo que escalpeliza tudo o que, de perto ou de longe, pertence a essa vasta maquinaria institucional, na vida dos partidos, dos homens que dele vivem, dos bacharéis diplomados em Coimbra aos amanuenses da maquinaria estatal, sem esquecer os seus pífios intelectuais, com primazia para os gazeteiros dos pasquins.


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