alguns dos muitos autores/livros em destaque
Maria Ondina Braga [Braga, 1932 - Braga, 2003]
Romancista. Cronista. Poeta. Tradutora. Frequentou o liceu em Braga, onde publicou os seus primeiros trabalhos. Ainda adolescente, parte para Inglaterra, tendo aí concluído um curso superior de língua inglesa, e, de seguida, para França, onde frequentou a Alliance Française.
Em 1960, vai para Angola como professora do ensino secundário e, no ano seguinte, para Goa. A invasão do território pelos indianos obriga-a a ir para Macau, onde leccionou durante três anos, no ensino particular.
O contacto com estes diversos mundos dar-lhe-á um conhecimento e a experiência que lhe permitirão escrever as suas primeiras narrativas, evocando, geralmente sob a forma de crónicas, os lugares por onde passou e as culturas com que conviveu.
Estas obras serão publicadas em Portugal, após ter fixado residência em Lisboa, a partir de 1964. Ainda em 1982, voltou ao Oriente, como professora convidada da Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim.
Os jornais Diário de Notícias e Diário Popular aceitam, entretanto, uma colaboração sua que irá diversificar, posteriormente, por A Capital, e pelas publicações Panorama, Mulher, Colóquio, JL e Letras e Letras.
Dedicou-se, paralelamente, à tradução de autores de renome internacional, nomeadamente Graham Greene, Pearl Buck, Anais Nin e Herbert Marcuse, entre muitos outros.
Segundo Maria Alzira Seixo, a produção ficcionalística de Maria Ondina Braga é constituída por "narrativas tecidas sobre o quotidiano feminino que procura uma vivência inteira da existência, temperada pelo sentimento e pela consciência social". Tem obra traduzida e publicada no estrangeiro. in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999 Vidas Vencidas (Caminho, 1998), foi vencedor do Grande Prémio de Literatura dst, 2000.
“Graças à mão amiga da Júlia Coutinho, chegaram-me recortes de entrevistas a Maria Ondina Braga. São textos de uma vida dorida, cercada pela carência de afectos, de meios, de uma carícia de reconhecimento. «Escrever foi única coisa que encontrei na vida», disse ela, num desses momentos. Viveu de traduções, ganhou com isso um magro pão. «Como escrevo pela noite fora sempre poupo uma refeição. Não preciso de muita coisa para viver, já quase não se vive como eu vivo», disse numa entrevista a Maria Antónia Fiadeiro.
Agora, porque está morta, começam a surgir as homenagens: um prémio literário com o seu nome, mas só para os que nasceram em Braga ou morarem em Braga! Uma rua com o seu nome uma «rua de horríveis caixotes de cimento», como se diz aqui, falando, com tristeza da sua expiação.” José António Barreiros Passagem do Cabo Maria Ondina Braga esteve professora em Malanje na mesma altura em que, miúdo, por ali andava, filho de solicitador. Quando a guerra começou, e com ela o cortejo de atrocidades e de rancores incendiados, estavam ambos presentes, ignorando-nos, e sem que a vida nos desse sequer a oportunidade do aproximar. Hoje, um sábado frio, ela morta, eu ainda por aqui, leio-a, folheando-o, como se na ânsia de a encontrar, um dos seus livros. Ei-la, enfim, num passeio ao Lombe, com as professores do Colégio das Madres, onde ensinou português. Entusiasmada, ela que nascia viva em cada ser, a falar da terra meditativa e úbere, extática e exuberante, das galinhas de Angola, do céu cravejado de estrelas, a estrada povoada de buracos enlameados. Como tudo isso me faz sentir só! Apátrida, filho de uma terra de que não me reconheço, acampado na vida, com os que me restam do álbum desbotado de uma família que desabou, leio-a para me reconhecer: «meu destino é passar». Hoje acordei em paz comigo. Levantei-me cedo e tomei em mãos o «Passagem do Cabo», um dos seus livros auto-biográficos e nele encontrei a frase «isto de contar a vida é sempre mais triste do que vivê-la». Está aqui a explicação íntima, a de fazer próprias as dores alheias, juntando-as às já sentidas."
J. A. B. n'A Janela do Ocaso
Maria Ondina Braga [Braga, 1932 - Braga, 2003]
Romancista. Cronista. Poeta. Tradutora. Frequentou o liceu em Braga, onde publicou os seus primeiros trabalhos. Ainda adolescente, parte para Inglaterra, tendo aí concluído um curso superior de língua inglesa, e, de seguida, para França, onde frequentou a Alliance Française.
Em 1960, vai para Angola como professora do ensino secundário e, no ano seguinte, para Goa. A invasão do território pelos indianos obriga-a a ir para Macau, onde leccionou durante três anos, no ensino particular.
O contacto com estes diversos mundos dar-lhe-á um conhecimento e a experiência que lhe permitirão escrever as suas primeiras narrativas, evocando, geralmente sob a forma de crónicas, os lugares por onde passou e as culturas com que conviveu.
Estas obras serão publicadas em Portugal, após ter fixado residência em Lisboa, a partir de 1964. Ainda em 1982, voltou ao Oriente, como professora convidada da Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim.
Os jornais Diário de Notícias e Diário Popular aceitam, entretanto, uma colaboração sua que irá diversificar, posteriormente, por A Capital, e pelas publicações Panorama, Mulher, Colóquio, JL e Letras e Letras.
Dedicou-se, paralelamente, à tradução de autores de renome internacional, nomeadamente Graham Greene, Pearl Buck, Anais Nin e Herbert Marcuse, entre muitos outros.
Segundo Maria Alzira Seixo, a produção ficcionalística de Maria Ondina Braga é constituída por "narrativas tecidas sobre o quotidiano feminino que procura uma vivência inteira da existência, temperada pelo sentimento e pela consciência social". Tem obra traduzida e publicada no estrangeiro. in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999 Vidas Vencidas (Caminho, 1998), foi vencedor do Grande Prémio de Literatura dst, 2000.
“Graças à mão amiga da Júlia Coutinho, chegaram-me recortes de entrevistas a Maria Ondina Braga. São textos de uma vida dorida, cercada pela carência de afectos, de meios, de uma carícia de reconhecimento. «Escrever foi única coisa que encontrei na vida», disse ela, num desses momentos. Viveu de traduções, ganhou com isso um magro pão. «Como escrevo pela noite fora sempre poupo uma refeição. Não preciso de muita coisa para viver, já quase não se vive como eu vivo», disse numa entrevista a Maria Antónia Fiadeiro.
Agora, porque está morta, começam a surgir as homenagens: um prémio literário com o seu nome, mas só para os que nasceram em Braga ou morarem em Braga! Uma rua com o seu nome uma «rua de horríveis caixotes de cimento», como se diz aqui, falando, com tristeza da sua expiação.” José António Barreiros Passagem do Cabo Maria Ondina Braga esteve professora em Malanje na mesma altura em que, miúdo, por ali andava, filho de solicitador. Quando a guerra começou, e com ela o cortejo de atrocidades e de rancores incendiados, estavam ambos presentes, ignorando-nos, e sem que a vida nos desse sequer a oportunidade do aproximar. Hoje, um sábado frio, ela morta, eu ainda por aqui, leio-a, folheando-o, como se na ânsia de a encontrar, um dos seus livros. Ei-la, enfim, num passeio ao Lombe, com as professores do Colégio das Madres, onde ensinou português. Entusiasmada, ela que nascia viva em cada ser, a falar da terra meditativa e úbere, extática e exuberante, das galinhas de Angola, do céu cravejado de estrelas, a estrada povoada de buracos enlameados. Como tudo isso me faz sentir só! Apátrida, filho de uma terra de que não me reconheço, acampado na vida, com os que me restam do álbum desbotado de uma família que desabou, leio-a para me reconhecer: «meu destino é passar». Hoje acordei em paz comigo. Levantei-me cedo e tomei em mãos o «Passagem do Cabo», um dos seus livros auto-biográficos e nele encontrei a frase «isto de contar a vida é sempre mais triste do que vivê-la». Está aqui a explicação íntima, a de fazer próprias as dores alheias, juntando-as às já sentidas."
J. A. B. n'A Janela do Ocaso
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