10 de abril de 2011

GAR ALGARVE (promotores Manif de 12/3 "Geração à Rasca" - Algarve): Conf. Imprensa 12/4, 15h

Os promotores da manifestação “geração à rasca” de dia 12 de Março de 2011 realizada em Faro, convidam os meios de comunicação social a estarem presentes no dia 12 de Abril de 2011 na esplanada do Pátio de Letras”, em Faro, pelas 15h00, onde iremos realizar uma conferência de imprensa e onde serão apresentados projectos futuros deste movimento, bem como,esclarecimentos de quaisquer dúvidas existentes.

Aguardamos a vossa confirmação para o email gar.algarve@gmail.com para que possamos iniciar a conferência de imprensa quando todos os meios de comunicação social estiverem presentes.

3 de abril de 2011

2 de abril de 2011

Apresentação da exposição fotográfica de Suzanne Guerreiro, a 26 de Setembro de 2009.

“A fábrica”: da sua apropriação e referência identitária à reinvenção das memórias colectivas do lugar

por Vanessa Duarte de Sousa, Doutoranda em Cidades e Culturas Urbanas – Centro de Estudos Sociais/ Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia


Ao aceitar o desafio para comentar esta exposição, deparamo-nos com duas dificuldades. Por um lado, não dispomos de qualquer especialização na área das artes. Por outro, registamos iguais fragilidades ao nível do conhecimento específico técnico sobre fotografia.

Entendemos a proposta de discussão desta exposição olhando para as fotografias como dados, ou seja como material passível de tratamento para produção do conhecimento.

Olhámos para as fotografias apresentadas, a partir de duas dimensões sociológicas fundamentais: a dimensão territorial e a dimensão política.

Ao nível da dimensão territorial um primeiro olhar sobre as fotografias poderia levar-nos a dizer, de um modo descontextualizado que se tratam de imagens sobre espaços vazios – de gente e de funções. Lugar de passagem para uns, lugar de observação para outros, e ainda quiçá, lugar de refúgio para uns outros tantos.

Entre «amigos», diríamos que se tratam de «fotografias bonitas, que revelam a sensibilidade da fotógrafa ao dar enfoque a alguns ângulos do espaço em concreto, etc… sobre uma fábrica vazia… que fechou como tantas outras»… E sobre a fábrica fechada no meio da serra ainda acrescentaríamos: «Temos pena!!! É o caminho da competitividade, da mudança dos tempos, etc., etc.»

Estaríamos aqui perante um desvio de olhar, como Augé (1994) retrata, ou seja, aquele espaço desqualificado pelo olhar dos indivíduos. Hoje olhamos sempre para um espaço com uma classificação qualquer – espaço de lazer, espaço turístico, espaço de serviços, espaço residencial. Esta fábrica, situa-se no que o próprio autor denomina de «não-lugar», uma figura retórica utilizada para um espaço que não tem qualquer classificação específica e que serve apenas de passagem.

Um olhar mais aprofundado, centrado na análise da relação dos modos de vida com aquele território em que se enquadra esta fábrica, leva-nos a ver estas imagens de forma diferente.

Construímos um imaginário que medeia a relação entre o que foi e o que é hoje a fábrica. E se hoje pode ser esse espaço vazio, a leitura sobre a sua história permite-nos transformá-la em espaço de memórias.

Visualizamos gentes a laborar, mesmo que não saibamos em quê. Ouvimos conversas, mesmo que não percebamos do que se tratam. Sentimos movimento. Vemos hierarquias, funções diferenciadas entre os vários trabalhadores presentes. Percebemos estratégias de sobrevivência…

Obviamente que esta é uma leitura imaginária. É uma leitura centrada no que podemos pensar sobre aquilo que não vemos no imediato, mas que a fábrica transporta como lugar que um dia teve uma utilização específica, que permitiu ocupar pessoas, que apoiou decerto na manutenção e fixação das gentes naquele território.

Do primeiro contacto com a Suzanne, apercebemo-nos da dificuldade de reconstrução dessas memórias. As gentes que aquela fábrica uniu, dividiram-se, já não estão mais presentes, decerto algumas até já faleceram.

Construiu-se o vazio da própria memória. Esvazia-se o presente, pelo facto de apenas se contemplar o futuro. Mas com isto não queremos dizer que essa não seja passível de reabilitar.

É bastante provável que um trabalho de pesquisa mais aprofundado nos levasse a reconstruir a história daquele espaço, seja pela procura de ex-trabalhadores ou seus descendentes, como através da pesquisa de documentos. O início deste trabalho já foi desenvolvido pela própria Suzanne, como ela própria terá oportunidade de referir.

O contemplar do futuro remete-nos para a segunda dimensão que propusemos no início, ou seja, a dimensão política. A primeira questão que se coloca a alguém que se preocupa com o território é: e que futuro para aquela fábrica?

Equacionamos a reflexão desse futuro por relação à memória dos espaços. A este respeito, podemos ter pelo menos 3 opções:

- A reabilitação das memórias

- O depositório das memórias

- A ruptura com as memórias.

Em relação à reabilitação das memória podemos procurar um futuro partindo da proposta que fizemos sobre a pesquisa acerca das funções específicas daquele espaço, sobre a sua relação com as pessoas do território, etc.

A partir daí é possível redesenhar aquele espaço, mesmo que com outras funções, mas que permitam ligar o passado ao futuro. Que possibilite a preservação das memórias a par com uma vivência do espaço que o torne apropriável por diferentes grupos sociais, para cumprir diferentes objectivos.

Se ao nível da arquitectura e design do lugar esta opção não parece difícil de construir, a forma como se captam gentes para estes espaços já pode ser mais complexa.

Gostaríamos de dar dois exemplos, um em Portugal, outro em Itália. No primeiro caso a abordagem será centrada no conteúdo da intervenção, no segundo a reflexão será tomada por relação ao processo.

Vejamos o caso da Fábrica da Pólvora em Barcarena, Oeiras. Trata-se de um espaço que foi adquirido pela Câmara Municipal de Oeiras, que posteriormente o transformou em núcleo cultural. Hoje compõe-se do museu da pólvora, a par com espaço de restaurante e bar, espaço para realização de espectáculos ao ar livre, espaços de lazer e galeria de arte/ Centro de Experimentação Artística. Situada numa zona relativamente periférica aos principais núcleos habitacionais, de lazer e de serviços do concelho de Oeiras, a Fábrica transformou-se num espaço com vida, com gentes de diferentes idades e de diferentes espectros sociais.

Atentemos ao segundo caso, a ex- Fonderie (ex- Fundição) em Modena. Trata-se de uma cidade onde é implementado o orçamento participativo, ou seja, em que o orçamento municipal é discutido com os próprios cidadãos locais. Aproveitando o potencial da participação, resolveram tornar participado o projecto de reabilitação dessa antiga fábrica. Para tal foram seleccionados cidadãos do município, a partir de entrevistas. Esses fizerem parte de uma primeira reunião comunitária, com o objectivo de apresentar o processo. Seguiu-se a formação de facilitadores das reuniões futuras que iriam ser realizadas com o intuito de discutir o futuro da Fundição. Numa fase de exploração do terreno, estes participantes locais foram convidados a visitar a ex-Fundição, ao que se seguiu um Banco de Ideias – em que as pessoas deram sugestões para aquele espaço. A partir dessas ideias sistematizadas, passou-se à sua discussão com ateliers de arquitectura que pretendiam concorrer ao processo de requalificação.

Finalmente deu-se a votação e argumentação dos resultados do concurso. Apenas a título de curiosidade, refira-se que o argumento utilizado para sustentar a proposta ganhadora foi de que esta conseguiu retratar a identidade daquele espaço, integrando-o num design moderno e qualificando toda aquela zona da cidade em que se insere a antiga fábrica.

Estes são apenas dois exemplos das possibilidades que temos na reabilitação das memórias dos espaços.

Quanto ao futuro passar por uma «depositório» de memórias, uma das principais opções públicas sobre estes espaços que perderam a sua função original tem sido de os transformar em museus. Não desqualificando a importância dos museus, como forma que apoia igualmente na reabilitação das memórias, certo é que a maior parte se traduz num «depositório» dessas memórias.

São espaços que tendo conteúdo, não têm necessariamente vida. Em parte dos pequenos museus que se têm vindo a construir, de que o caso algarvio não constitui excepção, fazem-se, reabilitações de espaços anteriormente utilizados com uma função produtiva e/ou a sua emergência retrata geralmente a morte de modos de vida específicos daqueles territórios em que se inserem.

Ganha-se em reabilitação do espaço, mas perde-se, em grande parte dos casos, na sua apropriação. Tratam-se, muitas vezes, de espaços que não são animados, sem projectos educativos, sem quaisquer atractivos de lazer que possam captar as pessoas para uma maior utilização do espaço reabilitado.

Como nos diz Jordi Borja (2005), na gestão do equilíbrio entre a memória e o futuro pode ser tão mau votar ao abandono, como transformar em museu.

E, finalmente, passemos à mais arriscada e perigosa das opções – a ruptura com as memórias. O futuro mais provável para esta fábrica é que desapareçam completamente as memórias que podem existir sobre aquele espaço.

Tal deve-se ao facto de se tratar de um espaço privado, que apesar de poder contemplar em si mesmo um património cultural e histórico, o seu futuro depende dos seus proprietários.

Neste sentido, não significa que não se transforme num espaço vivo e apropriado pelos seus novos utilizadores. Mas tratar-se-á, tendencialmente, de uma apropriação selectiva – a dimensão do público esvanece-se.

Por outro lado, pode transformar-se num espaço desvinculado da sua historicidade. Pode construir-se um futuro sem qualquer relação com o passado – perdem-se as memórias, e perde-se a ligação daquele espaço ao território.

Face às diferentes opções possíveis, atentemos à proposta de testemunho de memórias da Suzanne.


Referências Bibliográficas:

Augé, Marc (1994) Não-Lugares. Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade, Lisboa, Edições 70.
Borja, Jordi (2005) La ciudad conquistada, Madrid, Alianza Eidtorial.