26 de março de 2009

ABRIL no Pátio de Letras

Exposições

Sábado, 25 de Abril, 17h00 -INAUGURAÇÃO

«Livros Proibidos no Estado Novo» - inauguração e apresentação pelo Presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes
org. Pátio de Letras e Salvador Santos, com a generosa colaboração do Senhor Duarte Infante - antiga livraria Silva)

Exposições/Fotografia

no Pátio de Letras até 20 de Abril

NELLE IMAGINI L’ANIMA - poesia e fotografia de ANTÓNIA POZZI

org. Instituto Italiano de Cultura, UALG e Pátio de Letras

Conferências/Palestras/Debates


Sexta-feira dia 3, 21h30

«António Vicente Campinas: linhas de fronteira», por José Carlos Barros

Conferência integrada no «Ciclo Viajantes, Escritores, Poetas - Retratos do Algarve», org. UALG/CIIPC/CMVRSA

Sábado dia 11, 17h00

«O Algarve na poesia de Teresa Rita Lopes» por Teresa Rita Lopes

Conferência integrada no «Ciclo Viajantes, Escritores, Poetas - Retratos do Algarve», org. UALG/CIIPC/CMVRSA

5ª f dia dia 16, 18h30

tertúlia Café Oceano sobre o tema "Agua quente ou água fria na costa algarvia"
O investigador Paulo Relvas falará das massas de água, umas vezes frias, umas vezes quentes, que banham a costa algarvia, e do porquê destas mudanças.

Sábado, dia 18, 21h30

«Arte e Media» - apresentação do livro “Imagem e Memória”, pela Prof. Doutora Josette Monzani (Univ. Federal de São Carlos, Brasil) e da Revista electrónica “Intermidias” - tema: arte e política - pelo Prof. Doutor Hudson Moura (Simon Fraser University, Canada)

Debate animado pelas Profs. da UALG Gabriela Borges e Mirian Tavares e pelo artista plástico XANA

Sexta-feira, dia 24, 21h30

«Uma noite com o fogo» - o novo romance António Manuel Venda, apresentado por José Carlos Vilhena Mesquita, professor de História na UALG

Música e Poesia

Sábado 4 , 22h00

«InTentoTrio» - Pedro Reis (baixo), João Melro (bateria), Fernando Pessanha (piano)

«VJ_Zayle e Poesia» - Projecção de Poemas inspirados na obra dos WordSongs e da escritora Maria do Dromedário - autoria: Elisabete Ribeiro
(org. Patio@Bar)

Teatro

Sábado 4, 24h00

«Faz de Conto: Contos Eróticos Medievais», uma produção te-Atrito e ARC Músicos
(org. Patio@Bar)

Quinta feira, 9, 22h

"In Due" - Paulinho Lemos & Miguel Martins
(org. Patio@Bar)

Música - audição comentada


Sábado 18, 17h00

«Os virtuosos - música ou show off?» - audição comentada pelo Maestro João Miguel Cunha

Cinema

5ª feira 30, 21h00

«Iª Mostra de Cultura Fílmica» -

visionamento de curtas-metragens: "O Raptado", do jovem realizador algarvio Rodrigo Machado e de "The Alphabet" de David Lynch e ainda do filme "Um Cão Andaluz" de Luis Buñuel.

tertúlia animada por por Rodrigo Machado e pelos Profs. da UALG Dr. Vítor Reia-Baptista e Mirian Tavares - os filmes exibidos, as linguagens e os vários códigos presentes no fenómeno que é o Cinema

(org. Filipe Relêgo e Nuno Fernandes, alunos do Curso de Estudos Artísticos da FCHS da UALG)

Exposição de longa duração

Espaço de Memória - aberto todos os dias das 10h00 às 20h00

A Guerra Secreta em Portugal (1939-1945) - autoria: José António Barreiros

22 de março de 2009

o livro PRIVADO segundo Miguel Godinho

«Devo dizer que a sensação que me fica sempre após a leitura de um texto ou de um livro do Fernando é que a escrita lhe serve antes de mais de terapia (ou de psicoterapia), na medida em que trata sempre questões / problemas extremamente humanos, problemas reais, relacionados com as perturbações ou as dificuldades com que todos nos deparamos pelo simples facto de estarmos vivos e nos inter-relacionarmos uns com os outros.

O Fernando escreveu num outro livro seu o que para mim esclarece de alguma forma a razão da sua escrita (ainda que nas palavras de uma personagem de ficção por si inventada). Passo a citar esse trecho (do livro “Sexo entre mentiras”):

“(…) isto sou eu a pensar (…). Apetece-me desmontar pessoas. (…) Tu sabes que eu só escrevo como se fizesse uma limpeza emocional (…). Tenho este hábito de recuperar o humano para me alimentar dos seus fracassos. Estou onde está o sofrimento, tu sabes, mas as palavras são ainda a minha defesa. Sempre quis saber muito sobre os outros, muito para além do humano, e agora julgo não saber nada sobre mim, nada numa terrível consciência de viver por eles as suas tristezas. Quem me lê não imagina o sofrimento que foi preciso condensar num tempo escrito para que tudo voltasse a ter uma vida que escapasse à ficção de existir no meu pensamento. Peço silêncio para as minhas palavras.” Duas ideias-chave a destacar do que se disse: A vontade de desmontar pessoas (de percebê-las) e a escrita como limpeza emocional.

O Fernando não perde tempo com temas fáceis, com questões de algibeira, com matérias dóceis. O pensamento, a reflexão, a repercussão do olhar, os desequilíbrios interiores, as fragilidades, as debilidades das relações humanas, as fraquezas e as obsessões são assuntos transversais nos seus textos. Talvez por isso a sua escrita seja uma escrita psicológica, marcadamente circunspecta, onde as evidências da vida são reveladas por vezes de forma nocturnal mas com um realismo despido de preconceitos, e tratadas com um ligeiro toque de sarcasmo, fazendo-nos tantas vezes rir de nós próprios, da nossa pequenez. Este livro que aqui nos reúne é mais uma vez testemunho disso mesmo.

“Privado” é um ensaio ficcionado que retrata a vida de um casal desgastado, corrompido pelo passar do tempo, pelo tédio e pelas rotinas de vinte anos de vida em comum. A “familiaridade afectiva” (palavras de FEP) que se criou em torno destas duas pessoas, em substituição da paixão dos primeiros tempos, fez com que o sexo entre quem já se conhece demasiado bem se tivesse tornado um lugar desconfortável, visto terem deixado de existir a sedução e o desejo, dando lugar á monotonia, à insipidez, ao enfadamento. A sexualidade transformou-se num frete, fruto da sucessão dos dias que tornaram a vida fastidiosa, fruto da morte progressiva do erotismo.

Através do narrador que progressivamente nos vai introduzindo na história conjugal de Olga, uma mulher mal amada pelo marido, que se entrega a um sem número de fantasias como forma de inventar uma nova relação e de passar por cima do descontentamento, vamos percebendo o “compromisso de enganos em que se traduz este amor”, viciado e desgastado pelo tempo. O narrador aqui funciona quase como um psicólogo (e este é o traço mais marcado na escrita do Fernando) que, através de uma escrita densa, profunda, de confrontação, vai questionando constantemente as verdades da vida, desta vidinha que todos levamos, do que nos move, do que nos percorre, daquilo que não se diz, do que faz falta dizer, do que se pensa, da forma como se pensa. Assim, nota-se em toda esta obra uma profunda análise dos afectos, das questões colocadas pela consciência da personagem, da perversidade das suas fantasias como forma de contornar a artificialidade e da decadência sexual deste casal que tenta enganar os sentimentos reais a pretexto de um matrimónio estável, como se quer.

Assim sendo, as tentativas por parte de Olga no sentido de recuperar uma sexualidade honesta, sincera e acima de tudo real, parecem-nos por vezes ridículas, mas colocam-nos perante um drama em que tão facilmente nos revemos, da necessidade de afastar o tédio através da quebra da rotina. É nesse sentido que Olga inventa jogos de sedução frustrados entre o casal; que tenta até recorrer à violência simulada como forma de estimular o desejo, encenando uma sexualidade sem regras mas onde as regras já estão mais que pré-definidas, propondo o visionamento de filmes pornográficos mas onde o estímulo se esvoaça logo à partida em resultado da impossibilidade de sentir o mesmo fogo das personagens das películas. Imagina ainda provocações dissimuladas em desejos carnais onde joguinhos risíveis mais não logram do que evidenciar as verdades manifestas do cansaço dos dois.

Talvez por tudo isto o narrador não use nunca a expressão “fazer amor” entre este casal, preferindo termos como a “cópula” ou outros mais lascivos (como “foder”) no sentido de, por um lado, evidenciar o facto do sexo entre este casal se ter tornado numa obrigação conjugal, e de, por outro, apresentar ao leitor a dimensão real do afecto entre os dois, onde o empachamento da relação fez com que o amor se esfumasse, dando lugar a uma mera carência fisiológica. Nesse sentido e de uma forma brilhante, o narrador dá o exemplo de, num daqueles dias, ao marido de Olga lhe apetecer simplesmente (e passo a citar)

“ter sexo, mas uma coisa rápida e directa, sem preliminares. Um acto que não implicasse a procura do prazer através duma poética da sexualidade. Aproximar-se e desfrutar o corpo de Olga, como se não tivesse de analisar exaustivamente a própria poesia do instante. Olga também não estava para complexidades. A abordagem simplificada, instintiva e primária elevava-a a um ponto mais alto na escala do erotismo. Não haveria lirismo encenado nem fingimento a encobrir o aborrecimento e a preguiça.”

Tudo, portanto, na mais pura da sinceridade, entre os dois. Seria apenas (desculpem a expressão) “descarregar” e já está. Até porque, como diz o narrador-Fernando num momento mais à frente, num outro apontamento quase psicanalítico, “o sexo não programado é um bom motivo de experimentação neste tipo de atitude. Evita-se uma sobrecarga psicológica, sem culpa formada sobre quem deu ou recebeu mais prazer. A preparação intensiva num acto sexual pode levar a um enfraquecimento do desempenho. Mas também pode ser uma causa de prematuridade orgástica”. Como se o que na realidade fizesse falta fosse um pouco de imprevisibilidade, de romper com o estabelecido, de uma reinvenção. Observe-se esta constatação de uma profunda exactidão, escrita numa poética sublime, sobre a sexualidade possível entre este casal, no fundo de tantos e tantos casais que se imaginam outros como forma de reinventarem a sua sexualidade: “O amor que eles sentiam um pelo outro era mesmo uma fantasia. Eles não se amavam. Eles favoreciam as suas próprias necessidades sexuais numa troca de corpos para que cada um deles pudesse sonhar à sua maneira. O sonho de ambos era uma galeria de imagens provocantes que os fazia sentir na presença de estranhos”. Recuperando uma afirmação do Fernando presente num outro livro seu e a propósito do que se disse, (novamente do “Sexo entre mentiras”), “o amor é uma guloseima que se derrete no coração. Se soubéssemos tudo sobre a pessoa que amamos, se calhar nunca tínhamos querido amá-la incondicionalmente. O amor dura enquanto ainda houver matéria desconhecida no outro”. Já se percebeu que o tema da sexualidade está muitas vezes presente na escrita do Fernando, e muitas vezes sob a forma da sexualidade no limite da tolerância, a sexualidade corrompida ou por outro lado, a sexualidade necessária.

Em Privado encontra-se uma estrutura semelhante em todos os capítulos, baseada mais ou menos na seguinte fórmula: primeiro o narrador introduz um problema na relação conjugal do casal (que poderia ser um qualquer casal que se ature há muito tempo), para de seguida o abordar, problematizando-o do ponto de vista psicológico, sugerindo por fim uma maneira / uma forma do casal lidar com ele, expondo as contradições, a degradação das atitudes, a dissimulação, a impostura, a incapacidade em contornar a questão enquanto ao mesmo tempo prefere continuar a ignorá-la. Se pensarmos bem, este método é utilizado também pelos psicólogos.

Assim sendo, é fácil qualquer um rever-se nestas problemáticas apresentadas no livro, pela precisão com que o Fernando aqui a apresenta. Interessante é o facto do livro estar dividido em 31 capítulos, tantos quantos os dias de um mês, como se cada capítulo tratasse um problema (ou os problemas de um dia, se quisermos) com que um casal se depara. Mais interessante ainda é o facto de no primeiro, Olga começar por se lamentar porque acha que o marido tem outra mulher, para, no último, essa mesma Olga acabar por recuperar o desejo sexual, revitalizando a relação, acabando se quisermos, de certa forma, preenchida sexualmente (e afectivamente). Podemos imaginar que no capítulo seguinte, que acabaria por ser o primeiro dia de um novo mês, ela voltasse outra vez ao mesmo estado de espírito, incerta no amor, cheia de dúvidas, com falta de se sentir amada.

Por fim, de referir somente que é sublime a forma com que o Fernando nos apresenta esta vidinha em que nos corrompemos e nos enganamos a nós próprios, esta realidade tão universal, apresentada numa linguagem tão acessível e clara, por vezes com uma poética sedutora, por vezes áspera, por vezes irónica, numa atitude quase de sátira com o ridículo das atitudes comportamentais. São textos pequenos mas intensos, carregados de verdade e de precisão. Dizer apenas que a pornografia contida neste livro não decorre do facto do tema andar à volta da sexualidade, decorre sim, da realidade ser ela própria pornográfica, como se diz no próprio livro. Henrique M. B. Fialho recordou no excelente prefácio as palavras do filósofo francês Michel Onfry que escreveu a este propósito: “casar [talvez mais não seja] (…) do que arranjar forma de lidar com a vida na base da ilusão, da mentira e da hipocrisia.” E, como diz o mesmo Henrique, “agora o melhor mesmo, é não pensar muito neste assunto”.»

21 de março de 2009

Colecção Livro Carta da Colares.

Pequenos clássicos com ilustrações à altura, leves e que cabem num envelope de tamanho padrão. Com envelope e marcador já incluídos, pode surpreender alguém querido que se encontre distante por apenas 4,45€ (só não inclui o selo).

Livro Carta Amar um Cão, de Maria Gabriela Llansol


Outros títulos disponíveis no formato Livro Carta:

O Rouxinol e a Rosa, de Oscar Wilde
O Sol Minguante, de Gustave Flaubert
Retrato Próprio, de Bocage
Lisboa Revisitada, de Fernando Pessoa
Auto da Alma, de Gil Vicente
Oração ao Pão, de Guerra Junqueiro
Eros, de Platão
O Amigo Dedicado, de Oscar Wilde
Cantiga de Esponsais, de Machado de Assis
A Flor Azul, de Novalis
A Ilha dos Amores, de Luís de Camões
Um Sonho de Beleza, de Antero de Quental

...entre outros, que aguardam o seu olhar...

18 de março de 2009

onde estamos - MAPA/acessos


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16 de março de 2009

"A Guerra" - Joaquim Furtado

O MPLA pede a Che Guevara um instrutor que seja "negrito", Guevara promete mandar um "bom negrito", esse bom negrito "transformou-se em seis". Na FNLA, Jonas Savimbi sai em ruptura com o líder Holden Roberto. E os colonos portugueses entram em choque com os soldados.Três momentos da frente angolana no episódio de A Guerra que marca o regresso da série de Joaquim Furtado, hoje, na RTP, às 21h30. Este 10º episódio vai de 1964 a 1965, o ano em que a PIDE assassina Humberto Delgado e Salazar declara os portugueses "orgulhosamente sós". Além de Angola, mostra o que está a acontecer em Moçambique: avanço da guerrilha da Frelimo, primeira grande operação anti-guerrilha e aparecimento de milícias ligadas a Jorge Jardim."É uma continuação, não uma série nova", ressalva Joaquim Furtado, sentado no estúdio da RTP onde passa os seus dias.
Em 2007 foram exibidos os primeiros nove episódios (1961-64), agora passam mais nove (1964-70), mas haverá uma terceira parte (1970-74), e é nessa que o jornalista está a trabalhar. "Há anos que a minha vida é isto." Joaquim Furtado - que anunciou a revolução portuguesa, ao ler na rádio o comunicado do Movimento das Forças Armadas - começou a investigar em 2000 para A Guerra. Com um intervalo de dois anos, dedicou já sete a este trabalho, entretanto distinguido com o Prémio Gazeta. O resultado ficará como um dos mais importantes documentários televisivos em Portugal. É História sem deixar de ser jornalismo - e "ainda não é só História, é política", crê Furtado, "porque muitas pessoas estão vivas e têm responsabilidades políticas". Isso é "estimulante", tal como o facto de muitos dos que viveram a guerra poderem reagir e contribuir. Foi o que aconteceu quando a primeira parte foi para o ar. "Houve vários contactos de pessoas a disponibilizarem-se para falar por se sentirem estimuladas a dizer o que antes evitavam", conta. "Logo a seguir ao 25 de Abril os milhares de combatentes que tinham estado na guerra ficaram fora da agenda, não havia tempo para estar a pensar naquilo. E passados 30 anos já há espaço.
A série pode ter tido esse efeito: se outros falam eu também posso falar."A partir do momento em que a série estreou, Joaquim Furtado começou a ser convidado para debates pelo país, e lembra-se de haver na assistência quem se levantasse a dizer: "Estou a falar disto em público pela primeira vez."O tempo e o espaço que houve para o programa terão ajudado a essa confiança, crê o autor: "Faz-se pouca coisa sobre a guerra e aqui parecia haver outro fôlego. Admito que algumas pessoas tenham pensado que talvez valesse a pena."A primeira parte tem nove horas, esta segunda 11, ou seja, 20 horas de emissão em prime time, súmula de centenas e centenas de horas em bruto, algo que será inédito no documentário português - e falta um terço, que Joaquim Furtado gostaria de pôr no ar ainda este ano. A ambição deste projecto implicou procurar milhares de filmes em arquivos espalhados pelo mundo, visioná-los e anotá-los; fazer dezenas de entrevistas em estúdio e in loco; ir a Angola, Moçambique, Guiné (as três frentes da guerra) e Cabo Verde; identificar e datar cada pessoa e cada acontecimento; construir dezenas de mapas com diferentes escalas; recriar acontecimentos com desenhos e a três dimensões; escrever, montar, sonorizar - tudo o que já se pôde ver na primeira parte, e até um fado composto por um ex-combatente, que Joaquim Furtado levou a estúdio com os instrumentistas. "Então e a série?""A minha atitude tem sido a de tentar conquistar o tempo necessário", resume Furtado, que muitas vezes, ao longo de anos, teve de responder à expectativa: "Então e a série?" Porque é raro que um jornalista possa - ou saiba - estar tanto tempo na sombra, a construir algo que irá muito além da espuma dos dias. E que, depois, em vez de apressar a feitura de todos os episódios para que eles passassem seguidos, optou por emitir nove, deixando os próximos para quando estivessem prontos. "Não fiz uma coisa diferente por causa das pessoas que entretanto apareceram, mas foi bom ter ido para o ar uma primeira parte, porque acabou por trazer algo.
Isto é uma espécie de obra aberta, e enquanto for a tempo procurarei incorporar tudo."Hoje, está em Julho de 1970, "algures a meio da Operação Nó ", no planalto dos Macondes", Moçambique. E Sérgio Alexandre, editor de pós-produção vídeo, monta planos entre dois ecrãs de computador."Não há repetição de planos na série, apesar da dificuldade de filmes", explica Joaquim Furtado. "Também não há sonoplastia criativa, utilizo o que é requisitado pelo próprio filme." Nem "a utilização indiscriminada de imagens". Ou seja, não há imagens de Angola quando se está a falar da Guiné, ou vice-versa. "Tento que as imagens correspondam ao que estou a narrar, e naquele tempo. Porque os fardamentos de 1961 não são os de 1967." Mas "se há um problema a contornar é a falta de imagens". Tantas e tão ricas, não repetidas, são as imagens ao longo da primeira série que o espectador é levado a pensar o contrário. Incursões em picadas, atravessamento de rios, despojos de combates e massacres. Campos, aldeias e cidades nas três colónias. O Terreiro do Paço cheio de povo instado a gritar "Angola!... É Nossa!". Os navios carregados de mais soldados, os colonos a armarem-se e os guerrilheiros a treinarem no Congo ou na Argélia. A vida em Luanda, em Lourenço Marques, em Bissau. O regime a pôr e dispor de ministros e governadores. Kennedy lá fora a pressionar. O fim do colonialismo pelo mundo."Eu quero contar a guerra e as suas circunstâncias, a actividade geral humana, o fresco do que era, de como as pessoas viviam", resume Joaquim Furtado.
Há muito menos imagens do lado da guerrilha, porque a televisão pública só acompanhava as tropas portuguesas - falando sempre em "terroristas" e em "nossa pátria". "São poucas as reportagens de guerra. Há imagens dos Serviços Cartográficos do Exército, utilizadas para propaganda, e alguns filmes estrangeiros."Essa busca tem episódios rocambolescos, como um filme que apareceu na Rússia e prometia revelações, mas quando chegou tinha restos de Brad Pitt. "Continuo à procura. Neste momento tenho umas imagens sobre a Operação Nó , cuja existência descobri num relatório. São um olhar diferente."Por vezes, pode ser uma nota num papel, que fala de uma equipa de televisão que esteve ali. Então, Joaquim Furtado vai à procura dessa equipa, porque supostamente terá filmado algo. E isto pode dar nada, muitas vezes. Mas outras vezes recompensa, tal como as entrevistas com os protagonistas que Furtado ouviu, dando-lhes todo o palco, em entrevistas muito preparadas previamente para o tempo de registo ser o mais revelador possível, e sem que o entrevistador sequer apareça - de caçadores profissionais a chefes de posto colonial, de generais a desertores, de ex-ministros a futuros presidentes (entretanto mortos, como Nino Vieira).E depois há os que estiveram no centro dos acontecimentos, e por isso mesmo não quiseram falar. "Ainda há quem ache que não passou tempo suficiente, como há gente que contou coisas que nunca tinha contado e gente que jamais contará algumas coisas."Um dos tabus quebrados é o uso de napalm. "Nesta série, isso foi assumido, vários oficiais falaram disso." A dizerem claramente "eu usei napalm" nesta ou naquela circunstância. "Deixou de ser uma ambiguidade." Mas Furtado não estava apenas concentrado na novidade: "Claro que o primeiro objectivo é o que se consegue contar de novo, mas também era importante recolher tudo o que está adquirido, tirar partido disso, acrescentar-lhe o pouco conhecido e o novo, de modo a dar uma visão de conjunto."Mais exemplos de algo novo? Pormenores das transacções com a UNITA; de como as guerrilhas recrutavam combatentes à força; de como as facções angolanas sempre se guerrearam entre si; ou de como Mao Tsé Tung perguntou a Savimbi onde é que ele queria fazer a guerra - e depois lhe disse que estava errado: tinha que ser no Leste.Mas no episódio de hoje ainda nem existe UNITA e faltam 10 anos de guerra.

13 de março de 2009

última hora

Em virtude do falecimento do pai da eurodeputada ANA GOMES, esta não poderá estar presente na plestra debate de amanhã no Pátio de Letras.

O evento contará com os demais convidados, o jornalista Rui Costa Pinto e o Dr. Jorge Ferreira. O debate será moderado pelo Dr. José António Barreiros.

3 de março de 2009

"Viajantes, Escritores e Poetas: Retratos do Algarve”

Ciclo de Conferências – em Faro e Vila Real de Santo António


A partir de 13 de Março e prolongando-se até 17 de Julho, realiza-se em Faro (Livraria Pátio de Letras) e no Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António um Ciclo de Conferências sobre o Algarve na literatura, organizado pelo Centro de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade do Algarve e pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António / Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela.

Com a coordenação geral do Prof. João Carvalho da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve e da Dr.ª Catarina Oliveira do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela, este evento trará às duas cidades algarvias vários especialistas das Universidades do Algarve, Nova de Lisboa e Faculdade de Letras de Lisboa, assim como poetas e escritores algarvios: António Rosa Mendes (Abertura: Vila Real de Santo António); José Joaquim Dias Marques; José Carlos Barros; Teresa Rita Lopes; João Carlos Carvalho; Isabel Dias; João David Pinto-Correia; Nuno Júdice; Gastão Cruz; João Minhoto Marques; Carina Infante do Carmo; Ana Alexandra Carvalho; Ana Catarina Ramos; Artur Gonçalves; Emanuel Guerreiro; Maria do Rosário Marinho; Vasco Barbosa Prudêncio; Pedro Ferré (Encerramento: Faro).
Esta iniciativa integra-se nas Comemorações dos 30 Anos da Universidade do Algarve. Mais informações estão disponíveis no site da Universidade do Algarve, no site da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, no blog do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela e no blog do Pátio de Letras (Faro).